domingo, 8 de maio de 2016

Mãe


Uma nova oportunidade,
e me ofereço para ti.
Envolvido em teus braços, ainda oníricos,
derramo gotas de um sentimento revivido.

Um novo mergulho,
e me recolho em ti.
germinando em teu líquido, ainda escasso,
moldo a forma do instrumento recebido.

Um novo despertar,
e me reconheço em ti.
Respirando em teu colo, ainda jovem,
resgato reminiscências de experiências esquecidas.

Um novo aprendizado,
e me protejo em ti.
Desenvolvendo sob teus cuidados, ainda inseguros,
percebo ondas de um amor despertado.

Uma nova ruptura,
e me distancio de ti.
Desafiando sob teus conselhos, agora sábios,
lapido arestas de um caráter construído.

Um novo amadurecer,
e agora cuido de ti.
Sustentando as tuas fragilidades, agora evidentes,
devolvo parte da grandiosidade recebida.

Um novo declinar,
e sinto o vazio de ti.
Alimentando a tua lembrança, agora dolorida,
liberto apegos de uma alma preparada.

Um novo expirar,
e me conforto em ti.
Esvanecendo em teu acolher, agora etéreo,
caminho extático para o retorno esperado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Minha Família














Longa foi a espera,
mas a nostalgia, suave, sobrevivia...
Histórias vividas,
amizades construídas,
afetos recebidos.

Persistente foi a distância,
mas os laços, remotos, resistiam...
Na infância transbordada,
pela adolescência superada,
até a maturidade conquistada.

Vibrante foi o encontro,
mas o tempo, escasso, escorria...
Ternos abraços dados,
afagos trocados,
memórias compartilhadas.

Iluminado foi o dia,
e nossos velhinhos, etéreos, sorriam...
Gerações trocam de lugar,
marcas e sulcos aparecem e esvanecem,
mas a família, eterna, permanece.

Fotografia: Sérgio Dazzi




segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Humano e Selvagem


Imóvel, observo teus movimentos,
andar altivo,
despercebida fragilidade.
Pobre de ti, tão satisfeito,
vazio de ti mesmo,
preenchido por tão parcos saberes.

Atenta, percebo tua aproximação,
falar estridente,
truculenta inconveniência.
Pobre de ti, tão orgulhoso,
Inconsciente de ti mesmo,
enaltecido por tão fugazes conquistas.

Amedrontada, sinto tua voracidade,
desejar ilimitado,
contagioso egoísmo.
Pobre de ti, tão exibido,
oculto de ti mesmo,
estimulado por tão frívolos interesses.

Resignada, espreito tuas chagas,
dissimular seguro,
enganosa aparência.
Pobre de ti, tão adornado,
doente de ti mesmo,
envenenado por tão contagiosas vaidades.

Serena, sucumbo aos teus golpes,
ceifar impiedoso,
infecundo materialismo.
Pobre de ti, tão saciado,
morto de ti mesmo,
apodrecido por tão ignominiosos valores.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Somos Um


Em distante e escuro ventre,
mergulho novamente.
Em dolorosa fôrma,
contraio o meu etéreo.
Em envolvente e sufocante liquidez,
desenvolvo o meu templo.

Em densa e pálida atmosfera,
respiro inicialmente.
Em cárcere necessário,
vivo o meu exílio.
Em novo e estranho lugar,
reinicio o meu aprendizado.

Em árida e cinzenta paisagem,
cresço persistentemente.
Em perecível realidade,
procuro o meu norte.
Em interno e inexplorado universo,
busco a minha identidade.

Em irracional e agressiva selva,
sobrevivo forçosamente.
Em vazias companhias,
persigo a minha sintonia.
Em letárgica e autômata multidão,
esquadrinho a minha unidade.

Em insuspeito e único momento,
inalo suavemente.
Em penetrantes olhares,
acesso o meu passado.
Em despertas e relembradas sensações,
intuo o meu futuro.

Em diáfano e colorido firmamento,
flutuo extaticamente,
Em doce presente,
projeto a minha vida.
Em única e eterna alma,
reencontro o meu amor.

Tela de Marc Chagall

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Outono e Primavera


Fecundada, broto ansiosa,
absorvo, ímpeto inconsciente.
Ganho frescor,
recebo sem esforço, sugo, absorvo.
Morro meu último instante e, após dolorosa ruptura,
desabrocho novamente.

Desgastada, seco serena,
entrego, altruísmo consciente.
Perco o viço,
dôo com empenho, desapego, transbordo.
Vivo meu último instante e, após suave adormecer,
desintegro novamente.

Espreguiço, renasço radiante,
exalo, perfume pueril.
Exibo esperanças,
atraio com cores, matizes, texturas. 
Alegro com minha beleza e, após vigoroso fecundar,
Ilumino novamente.

Suspiro, feneço melancólica,
devolvo, fruto maduro.
Oculto vitórias,
enterneço com linhas, marcas, sulcos.
Cuido com minha sombra e, após alquebrado declinar,
Esmaeço novamente.

Espelho-me em ti,
sigo o seu caminho,
enxergo a sua maturidade,
sorvo a sua sabedoria,
envelheço, e seco novamente.

Sinto-te em mim,
volto o meu trajeto,
busco a sua pureza,
resgato a sua ingenuidade,
rejuvenesço, e germino novamente.

Fotografia: Adriano Gambarini

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mãe




Uma nova oportunidade,
e me ofereço para ti.
Envolvido em teus braços, ainda oníricos,
derramo gotas de um sentimento revivido.

Um novo mergulho,
e me recolho em ti.
germinando em teu líquido, ainda escasso,
moldo a forma do instrumento recebido.

Um novo despertar,
e me reconheço em ti.
Respirando em teu colo, ainda jovem,
resgato reminiscências de experiências esquecidas.

Um novo aprendizado,
e me protejo em ti.
Desenvolvendo sob teus cuidados, ainda inseguros,
percebo ondas de um amor despertado.

Uma nova ruptura,
e me distancio de ti.
Desafiando sob teus conselhos, agora sábios,
lapido arestas de um caráter construído.

Um novo amadurecer,
e agora cuido de ti.
Sustentando as tuas fragilidades, agora evidentes,
devolvo parte da grandiosidade recebida.

Um novo declinar,
e sinto o vazio de ti.
Alimentando a tua lembrança, agora dolorida,
liberto apegos de uma alma preparada.

Um novo expirar,
e me conforto em ti.
Esvanecendo em teu acolher, agora etéreo,
caminho extático para o retorno esperado.

Tela: "Mãe e Filho", de Gustav Klimt