sábado, 2 de julho de 2011

Se Eu Pudesse Flutuar


O corpo, da densidade da ignorância,
aprisiona a minha alma infantil.
O vale, das lágrimas da depressão,
atrai a minha massa passiva.
A terra, da aridez do pessimismo,
arranha os meus pés inseguros.

Ai de mim, que sonho me curar,
que seria de mim, se pudesse flutuar.

O calor, da inclemência da inveja,
arde a minha pele delgada.
As pedras, da rigidez da impaciência,
dificultam o meu caminho incerto.
O aço, da tenacidade da vingança,
retalha a minha carne pútrida.

Ai de mim, que sonho me curar,
que seria de mim, se pudesse flutuar.

O frio, da gelidez da ansiedade,
petrifica os meus membros debilitados.
O vento, da frieza do ódio,
arrepia os meus pelos assustados.
As águas, da persistência da mágoa,
inundam o meu peito sufocado.

Ai de mim, que sonho me curar,
que seria de mim, se pudesse flutuar.

O fardo, do peso da culpa,
verga os meus ossos fragilizados.
Os espinhos, do aguilhão do medo,
perfuram os meus olhos vacilantes.
O escuro, do âmago do desespero,
encaixota o meu corpo derrotado.

Ai de mim, que sonho me curar,
que seria de mim, se pudesse flutuar.

Percebo a minha realidade,
e subjugo o meu orgulho.
Enxergo a minha condição,
e derroto a minha arrogância.
Reconheço a minha pequenez,
e esquartejo o meu egoísmo.

O fim da minha miséria,
e a regeneração de todas as minhas feridas.
Feliz de mim, que posso me curar.

O ocaso do meu ego,
e o alívio de todo o meu peso.
Agora sei que posso flutuar.


Tela: "A Queda de Ícaro", de Marc Chagall

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