domingo, 1 de maio de 2011

O Casamento Real


   
Acordo, sigo para mais um dia. Dia ordinário.
Surpreso, percebo, sou exceção. Dia especial, casamento real.
Real? Realidade ou fantasia?

Dois estranhos, país distante, costumes distintos.
Estranhos? Não. Príncipe e Princesa.
Agora sim, sinto-me mais próximo, quase íntimo.

Um lunático.
Não vi e não ouvi.
Lunático convicto.

Casamento, união, intimidade, crescimento a dois.
Milhões de seguidores.
Desenfreados comentários, sedentas fotografias, ininterruptas notícias, único assunto.

Tolo, julgava importante o vínculo afetivo, o bem querer, a amizade.
Parece que devo ter andado enganado, pela vida toda.
Não escapo, feroz desconforto.

Tanta atenção, luzes, olhares. Obra teatral de dimensões globais.
Palco estéril de arte.
Enquanto isso, carentes esquecidos, abandonados, no escuro.

Mas a massa humana segue, letárgica, quase rastejante, na busca pelo seu ópio.
Verdadeiros súditos, reverentes, subservientes. Êxito absoluto.
Esqueceram, por mais um dia, das suas necessidades, dos outros e de si mesmos.

Perdi, escolhi conscientemente abandonar tudo isso.
Curioso, parece que crescemos e ficamos órfãos das antigas fábulas infantis.
A nostalgia e o vazio são aplacados então com fábulas da realidade.

Noite se faz.
Atravessarei o sono ignorante de toda celebração.
Sonharei só, solidão voluntária.

Conseguirei acordar? Enfrentar o dia seguinte?
Aceito o desafio e sigo, com ao menos uma única esperança...
Que tenham nos poupado do "...e foram felizes para sempre".

4 comentários:

  1. Texto pertinente num momento de puro automatismo. Há certa pressão para participar, estar informado a respeito de fatos que não são relevantes para nossas vidas. Afinal, o que temos que ver com isso?

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  2. Concordo em tudo, o que o Brasil, ou o quintal da minha casa tem a ver com isso?
    Não é questão de egocentrismo, mas sim que participar do que considero importante saber do mundo.
    E nesse dia não tive outra escolha a não ser ver um casamento que nem sabemos como vai acabar, imaginem que como vamos participar.
    Estamos acorrentados ao que os outros querem que saibamos.

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  3. As pessoas, não mal dizendo, mais por observação própria, seguem caminhos desenhados, e se não o seguem, mesmo na vida real, seguem em fantasias, como loucos procurando um sentido,melhor do que vivem no momento, que possam ser retirados do "sufoco"em que nos sentimos diariamente!
    E para isso agem todos na mesma direção, passo a passo, e vêem apenas o querem ver, ou melhor, vêem mais não enxergam!
    Olhei nos olhos dos dois e só vi brilho, de luzes que se apagam, quando se é desligado os refletores. Quero estar enganada disso.

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  4. É. Enriquecer o espírito do que ele realmente precisa dá trabalho. Requer uma força de vontade sem fim, para reconhecer os próprios limites e também ignorar os atrativos da rede da ilusão, que sempre dá um jeito de nos apresentar uma nova armadilha.
    Enquanto isso, vai a maioria, como vc tão bem descreveu, na busca pelo ópio. Pelo óbvio. Pelo caminho "fácil" que, no fim, é na verdade o caminho mais difícil.
    Deposito então a minha esperança nos amigos-irmãos que remam contra a maré comigo, e nos nossos filhos, que vivenciam os contos de fadas somente como forma de elaborar seus conflitos infantis. Saberão, através de nós e não dos jornais, do que é feita a realidade!

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